A compaixão aumenta os resultados da empresa

Este artigo foi publicado no dia 24/12/2019 no Portal Batalha das STARTUPS

Cuidar da sociedade onde se atua e do planeta onde se vive é algo mais que compaixão, é inteligência

A compaixão é um traço humano que nos ajuda a manter nossa existência.

Nascemos compassivos, porém, estudos mostram que a partir dos 5 anos iniciamos um comportamento mais egoísta que é potencializado pelo ambiente competitivo das escolas.

Embora a compaixão seja inata ao ser humano, alguns filósofos a consideram antinatural.  

O filósofo alemão Schopenhauer considera a compaixão “um dos caminhos para a negação da vontade”. Para ele as ações humanas são naturalmente guiadas pelo egoísmo, portanto, pensar no outro é sempre em detrimento de si próprio, e isso demanda esforço e um alto consumo energético.

Nietzsche segue a mesma linha de Schopenhauer sobre o egoísmo, porém, tem uma visão ainda mais negativa. O filósofo considera a compaixão um sinal de fraqueza.

“Quando alguém se compadece, perde a força. Pela compaixão aumenta-se e multiplica-se o desperdício de energia que o sofrimento, por si próprio, já traz à vida”.

Mas se por um lado Nistzche considera a compaixão como um esforço hostil à vida, Dalai Lama acredita que este sentimento é capaz de transformar o mundo.

Segundo Dalai Lama, guia espiritual e líder político do Tibete, é possível ensinar e cultivar a compaixão. Porém, quando adultos, não aprendemos a ter compaixão e sim nos reconectamos a uma característica natural que estava perdida dentro de nós.

Mas a compaixão não é uma característica do ser humano e está no âmbito de sua vida pessoal? O que isso tem a ver com o mundo corporativo?

Jamais podemos esquecer que empresas são formadas por, e para, pessoas.

Por isso, desde o ponto de vista de gestão, cada vez mais pessoas aderem à linha de pensamento de líder Tibetano. Do psicólogo Daniel Goleman ou Raj Sisodia à Michael Porter, passando por grandes empresários, como Richard Branson (Virgin Group), há um senso comum de que o lucro não deve ser o único indicador de resultado de uma empresa.

Existem estudos, tanto no exterior como nacionais, que demonstram que empresas que tem uma visão humanizada e atuam com compaixão, pensando não somente no lucro, mas também no impacto social e meio ambiental (triple bottom line) de sua operação, são extremamente mais rentáveis.

Toda empresa que queira sobreviver, se desenvolver e ter melhores resultados a partir de agora deve pensar, e acima de tudo atuar, de forma genuína, baseada na compaixão.

Portanto, é fundamental para a empresa buscar uma visão de compaixão e agir em consequência disso.

Nesta linha, segundo os estudos realizados por Tania Singer, psicóloga alemã, neurocientista social e chefa científica do Laboratório de Neurociências Sociais da Sociedade Max Planck em Berlim, os treinamentos não devem buscar a compaixão, e sim virtudes como paciência, generosidade, perdão, entre outros, que dão origem à compaixão.

Este artigo está sendo publicado no dia 24/12, véspera de natal, e considero oportuno mostrar, através de uma fábula que ilustra perfeitamente a compaixão e como isso garante a nossa existência. Em seguida mostrarei alguns exemplos de compaixão corporativa e como isso impacta positivamente nas empresas.

“Uma pessoa, como último desejo antes de morrer, queria conhecer o céu e o inferno, e isto lhe foi concedido.

Ao abrirem a porta do inferno, viram uma sala em cujo centro havia um banquete em uma mesa maravilhosamente posta. Em volta dela, estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas.

Cada uma delas segurava uma colher, mas como tinham os cotovelos invertidos, virados ao contrário, não conseguiam alcançar suas próprias bocas. O sofrimento era imenso.

Em seguida, foi o céu.

Entrou em uma sala idêntica à primeira, havia a mesma mesa, o mesmo banquete, as pessoas em volta, com os mesmos cotovelos ao contrário. A diferença é que todos estavam saciados.

– Eu não compreendo – por que aqui as pessoas estão felizes, enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo igual?

O guia sorriu e respondeu:

– Você não percebeu?

Aqui as pessoas também possuem os cotovelos invertidos, afinal de contas, somos todos iguais, elas também não podem levar a comida à própria boca, mas elas levam a comida à boca do outro, se alimentam uns aos outros.”

No mundo corporativo, empresas que pensam e agem pensando em construir um mundo melhor, obtém melhores resultados.

Primeiro porque aumenta significativamente o engajamento de seus colaboradores. Consegue atrair e engajar mais talentos. Os clientes, buscam e reconhecem cada vez mais empresas conscientes e humanizadas e isso, automaticamente, leva à empresa a melhores e maiores resultados.

Como as empresas podem ter compaixão? O que isso significa na prática?

Podemos citar o Plano de Vida Sustentável da Unilever (USLP, na sigla em inglês), que, entre outras medidas, une à sua cadeia de fornecedores de matéria-prima mais de meio milhão de pequenas fazendas em partes pobres do mundo.

Este movimento é ir à direção oposta das últimas três décadas que nos levou a concentração de riqueza, concentração de fornecedores para aumento do poder de negociação, otimização de resultados através de economia de escala.

Para não perder competitividade, o USLP ensina e ajuda os pequenos produtores a ganharem excelência. Isso levará uma fonte de renda e dignidade às regiões humildes, combatendo desemprego, pobreza e ignorância.

Outro exemplo, foi quando a Toms, empresa de calçado, iniciou uma campanha há mais de 13 anos onde, a cada par de sapato vendido, ela doa outro. Devido ao sucesso da campanha, ela estendeu isso a todos seus produtos e passou a fazer parte de seu modelo de negócio. Neste período, a Toms, doou mais de 95 milhões de pares de calçados.

Se você é um Tecno-Humanista, pode baixar o relatório a Toms, no drive da Tecno-Humanização.

No Brasil temos vários exemplos. A Reserva é um deles, que criou a campanha 1P5P, ou seja, a cada peça vendida viabiliza 5 pratos de comida a quem tem fome. Desde maio de 2016, já foram viabilizados a entrega de 34.960.600 pratos de comida.

Ou seja, não nos faltam evidências mostrando que a mentalidade de que para gerar bons resultados é preciso ser egoísta e pensar somente no próprio umbigo é coisa do passado.

Em terra de robô e de transformação digital, quem tem um coração é rei.

Imagens: Pixabay

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