É preciso ter coragem para criar modelos de negócios conscientes e humanizados
Este artigo foi publicado no dia 03/11/2020 na minha coluna no Portal Batalha das STARTUPS
Devemos ser gratos ao que conquistamos nas últimas décadas e riqueza gerada, mas chegou a hora de reconhecer que é o momento de mudar a forma de fazer negócios
O que você acharia se o governo decidisse que você não tem o direito de comprar o seu próprio carro, que ele se autoproclamasse responsável de repartir a riqueza e definisse que, como não há dinheiro para comprar carro pra todo mundo, além do transporte público, o meio de locomoção individual será bicicleta para todos. Porém, pelo histórico deste modelo, com o tempo tão pouco haveria recursos para manter as bicicletas, e elas ficariam velhas, obsoletas e malcuidadas.
Este cenário não funciona e sou totalmente contrário a ele porque acredito na propriedade privada, na meritocracia e na liberdade de escolha.
Mas quando olho para o outro modelo, no que eu acreditava, o cenário que vejo é, pessoas que se convenceram que comprando 5 carros de luxo estão gerando emprego para que outros possam andar com suas bicicletas velhas, e mais, o imposto gerado fará com que o estado construa ciclovias.
A teoria é boa, funcionou por muito tempo, porém ao incluirmos o ego e a avareza corporativa na equação, o modelo desmoronou.
Não acredito em sociedades que nivelam por baixo a pessoas com talentos e capacidades diferentes.
Mas também não acredito em um modelo onde há uma concentração de riqueza a ponto de gerar um desequilíbrio social que nos leve ao caos.
Segundo o relatório de Oxfam, Recompensem o trabalho, e não a riqueza, de toda a riqueza gerada no mundo em 2017, 82% foi parar nas mãos do 1% mais rico do planeta. Enquanto isso, a metade mais pobre da população global – 3,7 bilhões de pessoas – não ficou com nada.
Estes números demonstram que o modelo socioeconômico que temos, está esgotado.
O modelo corporativo que busca somente o lucro pelo lucro, e menos ainda ao que buscam somente o lucro justificando que estão criando riqueza para todos.
Somos parte de um ecossistema único, vivemos em sociedade e, inevitavelmente há uma interdependência de todos.
A inconsciência corporativa de fazer mais com menos e de crescer dois dígitos ano sobre ano por tempo ilimitado, sem se importar com as consequências provocadas nos levaram ao limite do aceitável.
As políticas de crescimento agressivas e sem limites corromperam o modelo de economia de mercado, que até o momento era o melhor modelo que disponível e agora geram tanto ou mais problemas que soluções.
O ex-primeiro ministro britânico Benjamin Disraeli disse:
“Uma sociedade só tem chance quando os homens de bem tem a mesma audácia que os corruptos”.
Esta frase foi dita no contexto político, mas se pensarmos que todos nós, seja por ambição desmedida ou simplesmente por covardia, corrompemos um modelo e provocamos um desequilibro que nos prejudica a nós mesmo.
Chegou a hora, na verdade já passou o momento de reinventar o capitalismo, melhora-lo, aproveitar tudo o que ele tem de bom, que são muitas coisas, e corrigir os pontos que não funcionaram que também são muitos.
Construir uma economia próspera baseada na empatia e na compaixão não é trivial.
É complexo porque existem muitas crenças e paradigmas que foram construídos nas últimas décadas, incluso que contam com o aval dos resultados porque funcionaram durante um tempo.
É muito mais fácil seguir a corrente e se esconder atrás dos clichês de que “isso é assim”, “esse é o jogo” ou “eu não posso fazer nada”.
A frase mais covarde que um executivo pode dizer, após fazer algo que ele sabe que não está bem ou que ele não acredita, é:
“Se eu não fizer alguém vai fazer”.
Se não estamos satisfeitos com a sociedade em que vivemos, façamos algo para mudar. Se não estamos felizes, façamos algo para ser.
Criar empresas humanizadas, que constroem uma sociedade melhor, requer coragem e humildade.
Humildade para reconhecer que o modelo atual está esgotado.
E coragem para colocar como prioridade o coletivo e colocar o ser humano no centro do processo de transformação.
Aplicar a tecnologia para humanizar empresas, resistir a tentação de deixar o fácil para fazer o correto.
E aprender a criar riqueza sem gerar miséria com a Tecno-Humanização.
Imagens: Pixabay