Cuidar das pessoas aumenta a
taxa de sucesso da transformação digital

Este artigo foi publicado: no dia 21/08/2019 no ITForum365 e no dia 27/08/2019 em minha coluna no Portal Batalha das STARTUPS

Contratar uma empresa de tecnologia para fazer sua transformação digital é tão absurdo quanto um laboratório farmacêutico cuidar da sua saúde

 

Sinceramente eu não entendo…

Se você não contrata um laboratório farmacêutico para cuidar da sua saúde, por quê contrata uma empresa de tecnologia para fazer a sua transformação digital? Se você contratasse um laboratório farmacêutico para cuidar da sua saúde, o que ele te recomendaria como a única solução para ser saudável?

O que ele te venderia? REMÉDIO.

A questão é que para cuidar da sua saúde você não precisa de remédio, você precisa dormir bem, se alimentar de forma saudável, praticar atividade física, buscar equilíbrio em sua espiritualidade, e, eventualmente, quando fica doente, você precisa de remédio. É exatamente isso que acontece quando você contrata uma empresa de tecnologia para fazer o seu processo de transformação digital, eles te vendem TECNOLOGIA.

E para um processo de transformação tecnológica, você precisa fundamentalmente, preocupar-se e ocupar-se das pessoas, depois do modelo de negócio e para viabilizar esta transformação, aplicar tecnologia.

Leia o artigo –  Fique atento: as tecnologias analógicas também vão impactar a sua vida para entender porque eu já não falo transformação digital e sim transformação tecnológica

Esse é um erro de conceito e o mais comum no processo de transformação digital das empresas. Olhar somente para a tecnologia é se preocupar com o final sem cuidar do processo de transformação em si.

A BE&SK encontrou o modelo matemático que explica este erro e mostra o caminho para corrigi-lo.

Modelo matemático: Viés da sobrevivência

Durante a segunda guerra mundial os EUA encomendaram a seus engenheiros que reforçassem seus aviões para evitar que fossem abatidos.

Como era inviável por peso, blindar todo o avião, os engenheiros analisaram os aviões que regressavam de combate e definiram as áreas com mais furos de balas como as áreas mais frágeis e, portanto, as que deveriam ser reforçadas.

Esta estratégia se mostrou um fracasso e os aviões americanos continuavam a serem abatidos. E sabe por quê? Porque os aviões analisados eram os que sobreviviam ao ataque, portanto, os furos de balas mostravam as áreas, que mesmo atingidas, não eram tão críticas porque o avião resistia ao ataque.

O matemático e estatístico Abraham Wald, que conhecia o viés de sobrevivência, e participou do SRG (grupo de pesquisa de estatística) encarregado de resolver este problema, mostrou que as partes que deveriam ser reforçadas eram justamente as que não possuíam tiros, porque provavelmente eram as que, quando atingidas derrubavam os aviões (tanque de combustível, motor e piloto).

Hoje, este modelo matemático, com ferramentas mais modernas, é usado por fundos de investimentos para bater índices de referências do SP&500.

Como o viés de sobrevivência nos ensina a aumentar a taxa de sucesso do processo de transformação digital?

Ao aplicar tecnologia para resolver seus problemas atuais, a imensa maioria por não dizer todos, estão relacionados ao crescimento, tais como aumentar as vendas (receita), reduzir custos, otimizar seu negócio e seus processos, isso significa blindar a parte que, mesmo atingida, mantém o avião no ar.

Não é a tecnologia que vai resolver estes problemas, ela só vai digitalizá-lo.

E como eu mostrei em meu artigo Crescimento vs. desenvolvimento, digitalizar este jogo só acelera o colapso.

Quando uma empresa digitaliza seus processos para melhorar a experiência do cliente, ela impacta seus clientes, transformando a forma de entregar seu produto e a forma deles consumi-lo. Isso gera mudança de comportamento nos clientes e na sociedade.

Quando a tecnologia é usada para otimizar processos, isso impacta os produtos, serviços, colaboradores, a forma de trabalhar, a cultura organizacional etc.

Em qualquer caso, sejam impactos internos ou externos, a transformação digital não acontece no datacenter, ela SEMPRE acontece nas pessoas.

Ao colocar a tecnologia no centro do processo de transformação digital a empresa está olhando para o lado errado.

Como resolver este problema?

A Tecno-Humanização coloca o ser-humano no centro do processo de inovação e transformação digital, a partir dele, desenha uma organização rentável e consciente que resolva problemas reais do ser-humano, e então, aplica tecnologia para viabilizar este modelo.

Obviamente a tecnologia tem muita relevância no processo de transformação tecnológica, porém elas são um meio e não um fim me si mesma.

A tecnologia representa menos de 20% do processo de transformação tecnológico de uma empresa, e sua função é viabilizar um processo de transformação mais amplo.

Esta afirmação é feita de acordo com o modelo de transformação digital ativa e passiva da BE&SK (escreverei um artigo em breve falando sobre isso), e ajuda as empresas a entenderem o porquê os estudos de McKinsey, Forbes, Wipro, Gartner, mostram que mais de 70% dos processos de transformação digitais não funcionam.

Todo processo de transformação, seja tecnológico, de negócio, comportamental, sempre começa e termina no ser-humano, organizações e negócios só existem por e para o ser-humano, pensar de forma diferente é atuar contra si mesmo.

E neste caso, termino como comecei.

Sinceramente eu não entendo…

Imagens: Pixabay

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