A tecnologia está para nos servir, não o contrário

Este artigo foi publicado: no dia 09/09/2019 no ITForum365 e no dia 11/09/2019 no Portal Batalha das STARTUPS

O Japão criou possivelmente a primeira divindade androide do mundo e ela é budista

 

Androide Kannon Mindar, lembre-se deste nome, porque agora está sendo reverenciado e, em breve, talvez se torne um líder religioso.

A novidade foi lançada em fevereiro deste ano no Templo Kodaiji em Kyoto. O investimento de quase USD 1 milhão para a construção do androide foi uma colaboração entre o templo zen e Hiroshi Ishiguro, professor de robótica inteligente da Universidade de Osaka.

Kannon prega os ensinamentos budistas em japonês e nos telões à sua volta em inglês e chinês para os turistas.

Como entusiasta da tecnologia e especialista em transformação digital humanizada, me chamou a atenção ver um robô em um templo de mais de 400 anos, falando sobre uma filosofia de mais de 2.600 anos para uma cultura muito mais milenar ainda, então eu resolvi escrever um artigo diferente esta semana.

Não vou falar de conceitos da Tecno-Humanização de forma genérica, e sim analisar esta notícia, sem julgamentos.

Vou aplicar a mesma técnica que utilizo em meus treinamentos, vou analisar esta situação como um consultor de tecnologia e depois como um Tecno-Humanista.

Como consultor de tecnologia…

O budismo, assim como a maioria das religiões, filosofias humanistas e espiritualistas estão experimentando um envelhecimento de seus fiéis e uma dificuldade enorme em conseguir o engajamento com as novas gerações.

Diante deste fato, provavelmente um consultor de tecnologia, com a incumbência de retomar o crescimento e engajamento com os jovens, e seguindo a corrente da transformação digital provavelmente pense em aplicar tecnologia para resolver essa questão.

Criar um robô, com afeições humanoides para criar empatia, deixar as partes mecânicas expostas para mostrar que é um robô e desta forma consegue-se conectar com os jovens. Colocar uma câmera no olho do robô para “ver” onde estão as pessoas, e desta forma girar, movimentar o tronco, cabeça e as mãos. Usar Inteligência Artificial para aprender e transmitir os ensinamentos de Buda e pronto. Solucionado!

Ah! Por certo, posso traduzir os ensinamentos a qualquer idioma e atender os turistas de qualquer país e desta forma melhorar a experiência do cliente.

Será preciso armazenar os conhecimentos em cloud, melhorar a segurança cibernética para evitar que alguém invada o sistema e possa colocar qualquer tipo de mensagem inadequada nos textos de buda.

Até aqui é o que temos hoje com o androide Kannon Mindar.

Mas um bom consultor, além de criar este projeto, pode inclusive vislumbrar e “vender” a ideia de que os próximos passos seriam:

 

  • Criar robôs menores, que possam interagir com os leigos, falar com eles, em linguagem natural (e em vários idiomas) e utilizando os módulos de reconhecimento de voz e de imagem, é possível identificar o estado emocional e, somando a análise sintática da fala, o robô poderá escolher o melhor ensinamento para aquele momento.
 
  • Fazer uma varredura na internet, redes sociais e parceria com grandes bases de dados, somente utilizando os dados públicos ou autorizados, o novo líder espiritual, aplicando big data e analytics poderia ser extremamente assertivo.
 
  • Vamos mais longe, seguindo as tendências dos modelos de assinatura, se oferece ao cliente um serviço de assessoria espiritual. O cliente autoriza o acesso aos dados privados e paga uma mensalidade em troca de uma solução para seus problemas… o androide poderia se converter em “Buda” (ou “Deus”) na terra com tanta informação.
  

A nova empresa Budandroidenaterra Ltda precisaria de uma forte governança para evitar que o androide compartilhe segredos de um membro de sua comunidade com outros. E com processos, compliance e governanças fortes, já podem abrir o capital, crescer e dormir tranquilos porque cumprem todos os requisitos exigidos pelos investidores e mercado.

Um momento…

Realmente este é o caminho a seguir?

 

Agora vamos analisar como um Tecno-Humanista…

Quando li a reportagem pela primeira vez sobre um robô que estava pregando em um templo budista japonês, me chamou atenção

O primeiro que me veio à cabeça foi, “Para o mundo que eu quero descer…“, citando a Silvio Brito (quem tem a mesma quantidade de juventude acumulada que eu, se lembrará)

Levar os ensinamentos de Buda ao mundo, mesmo aos que não são budistas é algo bom?

Eu acredito que sim.

Transmitir ensinamentos que buscam libertar do sofrimento, em minha opinião, é sempre positivo, independente da crença de religiosa de cada um.

Usar a tecnologia para engajar o jovem, para chegar a mais pessoas, para romper a barreira dos idiomas, tudo isso é extremamente positivo.

E usar aplicativos para ajudar e ensinar a meditar?

Válido também!

Criar comunidades virtuais para compartilhar informações e ensinamentos?

Ótimo!

Divulgar os ensinamentos através de e-books, vídeos, podcasts, usar realidade virtual e realidade aumentada para aumentar o impacto de alguns ensinamentos e transportar as pessoas a locais que realmente transmitam tranquilidade e paz.

Fantástico!

Toda essa tecnologia ajuda?

Sim!

Substitui o feeling, a energia e a sabedoria de um monge?

Eu acredito que não.

Dia da apresentação do Kannon Mindar.

Imagens: Pixabay e Kyoto News

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